O preço do diesel e da gasolina no Brasil continua defasado quando comparado ao praticado no mercado internacional mesmo após o forte reajuste anunciado pela Petrobras, apontam entidades do setor financeiro e de combustíveis consultadas pelo g1.
Na quinta (10), a Petrobras anunciou aumento de 18,8% para a gasolina e de 24,9% para ao diesel. O reajuste vale para o preço praticado nas refinarias, mas atinge o preço final, na bomba
Esse aumento começou a valer nesta sexta (11). Em algumas regiões do país, o preço do litro da gasolina chegou aos R$ 8, o que gerou protestos e corrida dos motoristas aos postos.
Para banco Goldman Sachs, a defasagem nos preços internos está em 6%, para o diesel, e em 12% para a gasolina.
A instituição avaliou que esse aumento feito pela Petrobras, nesta semana, já era esperado considerando a forte alta no preço do petróleo no mercado internacional, reflexo da guerra da Ucrânia.
Já segundo cálculos do Credit Suisse, os preços dos combustíveis no Brasil seguem defasados em 9%, no caso da gasolina (R$ 0,40 por litro), e em 7% no diesel (R$ 0,35 por litro).
"Os preços dos combustíveis são politicamente sensíveis no Brasil. Acreditamos que os ajustes substanciais dos preços domésticos também podem aumentar as preocupações de intervenção política na Petrobras", avaliou a instituição financeira, em comunicado.
Petrobras
Oficialmente, a política de preços da Petrobras se baseia no chamado "preço de paridade de importação" (PPI), que considera o valor do barril do petróleo e o dólar.
No entanto, a empresa tem demorado a fazer reajustes, alegando que assim evita repassar volatilidades internacionais ao mercado interno. Entre o último reajuste, e o aumento anunciado nesta semana, foram 57 dias.
Ao conter reajustes, a Petrobras deixa de registrar lucro e passa a registrar prejuízo, pois importa parte dos combustíveis vendidos no país e paga, por ele, mais caro.
No mês passado, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, chegou a afirmar que a empresa tem responsabilidade social, mas não pode segurar preços e, com isso, "fazer políticas públicas".
"A gente tem visto que isso tem sido entendido, que não seja a Petrobras a segurar preços. [A empresa] trabalha em cima da legalidade, tem de praticar preços de mercados", declarou ele, naquele momento.
Ele explicou, na ocasião, que, ao segurar preços artificialmente, a empresa dificultaria a importação de combustíveis, e isso poderia gerar desabastecimento no mercado interno — que não é abastecido unicamente pela Petrobras.
Governo e Congresso
O governo tem debatido nos últimos dias o que pode ser feito para conter o preço dos combustíveis.
As reuniões envolvem consultores, o ministro da Economia, Paulo Guedes, de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o presidente da Petrobras, Luna e Silva, e até mesmo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A proposta também já passou por votação na Câmara, mas a analise do projeto ainda não foi concluída..
Além disso, após o anuncio do mega-aumento pela Petrobras, Guedes afirmou que o governo estudará subsídio ao diesel se guerra Rússia-Ucrânia se prolongar.
O teto de gastos, nesse caso, é um impeditivo, mas fontes da área econômica não afastam a possibilidade de serem editados créditos extraordinários (que são exceções à regra do teto) para fazer pagamentos à Petrobras e, com isso, segurar o preço dos combustíveis.
Nesse caso, a empresa deixaria de ter lucro com a alta do petróleo, prejudicando, além do governo, seu controlador, os acionistas minoritários.
Eleições de 2014
Em 2014, ano de eleições, a presidente Dilma Rousseff também segurou os preços dos combustíveis, mas, naquele momento, não havia tensões externas impulsionando o preço do petróleo.
Em 2017, o Ministério Público Federal do Rio moveu uma ação civil pública por improbidade administrativa contra o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e a ex-presidente da Petrobras Graça Foster.
O MP do Rio argumentou que os dirigentes da empresa mantiveram uma política de retenção de preços dos combustíveis e a defasagem em relação ao mercado internacional, causando prejuízos à Petrobras.
Somente após as eleições, em outubro de 2014, é que o Conselho de Administração, sob a presidência do então ministro da Fazenda Guido Mantega, deliberou por recomendar à Diretoria Executiva o aumento dos preços da gasolina e do diesel.
Nesta quinta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que "se resolvesse", daria "murro na mesa" para obrigar a estatal a reduzir os preços dos combustíveis.